Encontrei um blog de Divulgação
Científica, trazendo diversas noticias no estudo da Biologia Molecular.
Nele encontrei a seguinte
pesquisa: Câncer: Novos
Alvos. Postado no dia 17 janeiro, 2013.
A medicina molecular tem ajudado
a tornar o conhecimento sobre o câncer muito mais claro e passível de
intervenções mais seletivas e eficazes. A observação é de Gilberto
Schwartsmann, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e médico oncologista do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre.
“A pesquisa molecular abriu boas oportunidades para
a descoberta de novos medicamentos contra o câncer. Até algumas décadas atrás,
a tônica na busca de novos medicamentos anticâncer foi centrada na procura de
drogas com efeito antiproliferativo. Com isso, não apenas as células malignas
eram afetadas, mas também os tecidos normais que se renovam rapidamente”, disse
Schwartsmann à Agência FAPESP.
Em consequência, segundo o
pesquisador, as chamadas quimioterapias tiveram como característica a baixa
seletividade pelo câncer e a ocorrência de efeitos tóxicos em tecidos normais
com alta taxa de renovação, como a raiz dos pelos, a medula óssea e as células
de revestimento.
Com as descobertas sobre a genética do câncer e o
entendimento dos defeitos moleculares responsáveis pelo seu surgimento,
tornou-se possível a identificação de vários defeitos moleculares envolvidos na
gênese de alguns tipos de câncer.
“Isso proporcionou que fossem desenvolvidas
estratégias de tratamento mais racionais e seletivas, dirigidas à correção de
defeitos moleculares específicos. Ou seja, hoje a tônica é identificar um alvo
molecular relevante, entender a função dos genes alterados, identificar as
proteínas anormais resultantes destes defeitos genéticos, e buscar, com isso,
novas alternativas terapêuticas que visem corrigir o impacto destes defeitos
moleculares na regulação do crescimento celular”, disse Schwartsmann.
Dentre as estratégias mais
utilizadas nas duas últimas décadas para interferir nos defeitos moleculares
associados à gênese de tumores malignos, destacam-se a produção de anticorpos
monoclonais que possam bloquear a sinalização – por receptores situados na
superfície da célula tumoral e que confiram função anormal ou por meio de
pequenas moléculas que possam inibir enzimas específicas que fazem parte dessas
cadeias de sinalização de crescimento anormal no interior da célula maligna.
“Essas pequenas moléculas podem ser usadas em
muitos casos por via oral – portanto de forma muito mais tranquila do que
quimioterapias tóxicas injetáveis. Entretanto, para que essas estratégias
tenham alguma chance de êxito, é fundamental que os alvos moleculares
escolhidos sejam relevantes para o crescimento do tumor. De nada adianta
interferir em um alvo que não seja importante para o crescimento das células
malignas”, explicou Schwartsmann.
Segundo ele, para se chegar a um
remédio eficaz e translacional em oncologia, é preciso primeiro identificar um
alvo de interesse e confirmar a sua relevância biológica em modelos
experimentais. Apenas após essas etapas estarem bem definidas é que se inicia a
busca de substâncias que possam modular este mesmo alvo molecular. Do
contrário, perde-se tempo com abordagens ineficazes. Um exemplo de sucesso
dessa estrategia é o desenvolvimento do anticorpo trastuzumab, usado em um tipo
de câncer de mama que expressa receptores anormais denominados HER-2.
Pacientes que expressam essa característica nas
células tumorais têm a metade do tempo mediano de sobrevida em relação às
demais pacientes com câncer de mama. Essa alteração está presente em cerca de
30% dos casos da doença e esses pacientes se beneficiam significativamente com
o uso deste anticorpo monoclonal.
“Quando se quer desenvolver uma droga eficaz, o
alvo tem que ser relevante do ponto de vista biológico. O que definiu o seu
sucesso nesse caso específico foi o fato de que se pode observar que as
mulheres que apresentavam em suas biópsias a amplificação do gene HER2 viviam a
metade do tempo das outras (três anos no lugar de seis). Daí, a validade de se
buscar drogas que pudessem interferir no HER2, chegando então ao trastuzumab. É
claro que ele só interfere nesse receptor e apenas funciona no subgrupo que
apresenta esta característica”, disse Schwartsmann.
De acordo com o professor ds
UFRGS, esta estratégia dirigida à correção de defeitos moleculares específicos
no câncer traz como consequência a idenficação de estratégias para grupos bem
definidos de pacientes. Ou seja, torna os tratamentos cada vez mais
personalizados.
Essa é a base do que se chama hoje de medicina
personalizada, na qual são identificadas as características moleculares da
doença naquele indivíduo específico e as suas características moleculares com
relação ao metabolismo ou tolerância individual a medicamentos.
“Com isso, poderemos escolher intervenções mais
específicas e com a melhor segurança possível para cada indivíduo a ser
tratado. Mas há muito ainda a ser pesquisado. Temos remédios interessantes para
um número cada vez menor de pessoas, porque os alvos estão mais seletivos”,
disse o pesquisador durante o Simpósio de Medicina Translacional, realizado em
29 de novembro na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro.
Outro exemplo de tratamento
citado por Schwartsmann foi o da leucemia mieloide crônica, tumor caracterizado
pela presença do chamado cromossomo Filadélfia, resultante da translocação de
dois cromossomos (9 e 22).
Essa translocação resulta na produção de uma
proteína anormal, com várias propriedades associadas à malignidade da doença.
Em consequência, foram testados vários inibidores da função desta proteína
anormal.
A partir de 2001, com o surgimento do medicamento
chamado imatinibe (que inibe a proteína anormal), pode-se oferecer mais
eficácia e muito mais segurança e conforto ao paciente, pois ele pode ser
administrado por meio de comprimidos.
“Isso representa um avanço inquestionável em
relação aos tratamentos quimioterápicos injetáveis e menos ativos utilizados no
tratamento destes pacientes no passado”, disse Schwartsmann. Novas abordagens
para o tratamento do melanoma – tipo de câncer de pele mais grave – também
foram lembradas pelo médico.
“Depois de várias décadas sem o surgimento de um
único medicamento que aumentasse em um dia a sobrevida dos pacientes
sintomáticos com doença avançada, várias novas drogas têm sido desenvolvidas
nos últimos dois anos. Essas drogas mostraram atividade isoladamente e estão
sendo combinadas em estudos clínicos, com resultados preliminares muito
promissores, e respostas muito superiores em relação aos tratamentos
convencionais do passado, que não tinham impacto claro no tempo e qualidade de
vida dos pacientes”, disse.
Alternativas promissoras
Schwartsmann ressalta que as novas drogas têm
resposta em torno de 40% a 50% de eficácia. Uma delas, o vemurafenib, atua
bloqueando a mutação na proteína B-RAF, causadora dos melanomas. Outra, a
ipilimumab, indicada para o tratamento do melanoma metastático, estimula o
sistema imunológico a atacar e matar as células cancerosas.
“Na realidade, mudamos o paradigma. Hoje em dia, em
câncer, passamos a fazer tratamento com drogas-alvo dirigidas a características
do tumor de cada paciente, ativas em alvos relevantes naquele indivíduo
específico”, avaliou Schwartsmann.
Outras alternativas promissoras destacadas são os
chamados imunoconjugados, que associam um anticorpo – capaz de se ancorar
seletivamente nas celulas tumorais – e um agente quimioterápico ou
radioterápico.
Com isso, leva-se a uma substância com ação
antitumoral direto ao local em que está o tumor. Há exemplos de sucesso em
câncer de mama, com a conjugação do trastuzumab com quimioterápicos e de
anticorpos anti-CD30 e quimioterápicos em doença de Hodgkin e linfomas.
Outra estratégia, de acordo com Schwartsmann,
consiste na modulação e ampliação da resposta de reconhecimento de células
malignas pelo sistema imunológico do paciente.
“Pesquisadores do Massachusetts General Hospital,
em Boston, puderam aumentar significativamente o reconhecimento imunológico de
células tumorais por meio do uso de anticorpos monoclonais que bloqueiam
proteínas que o tumor produz e lhe propiciam uma forma de escape e tolerância
por parte de nosso sistema imunológico”, afirmou o professor.
“Com isso, o organismo passa a atacar o tumor com
mais eficiência. Essa estratégia tem produzido respostas em muitos tipos de
câncer refratário aos tratamentos convencionais. É uma das áreas mais
promissoras para os próximos anos" destacou Schwartsmann.
O pesquisador salienta que o
conhecimento crescente da complexidade dos defeitos moleculares do câncer deixa
claro que as intervenções médicas em fases tardias da doença são fadadas ao
insucesso, uma vez que, em razão de sua instabilidade genética, o tumor adquire
progressivamente uma maior capacidade de se defender das intervenções médicas
utilizadas, ou seja, produz mecanismos de resistência aos medicamentos.
“A melhor estratégia para se resolver o problema do
câncer seria sobretudo a sua prevenção e detecção precoce, quando as
intervenções médicas têm melhor chance de corrigir de forma permanente os
defeitos moleculares presentes no tumor”, disse Schwartsmann.